Sete de setembro de 2007.
Uma semana após ter conversado com meu pai sobre o plano de contar
sua história de vida, em pleno feriado nacional, sentei-me ao seu lado no quarto em seu apartamento que ele toma como se escritório
fosse.
Ali, em meio a tantos papéis e muitas outras coisas que insiste em
guardar ou manter guardado, comecei a fazer com que ele falasse um pouco de sua infância.
De excelente memória, mas com 87 anos de muita coisa a contar, ele
atropela as devidas atenções que quero conduzir ao que preciso por enquanto.
Meu pai sabe e diz que vai escrever ele mesmo sobre sua infância.
Da roça ao prêmio que ganhou em seu emprego na extinta Estatística (IBGE) do Estado como melhor e mais organizado, com direito
a troféu entregue em solenidade com presença até do fundador do IBGE, eu tive que conduzi-lo à volta aos primeiros anos de
vida por algumas vezes.
Mais tarde, seguindo as nuances que aparecem quando se tenta entrar
por esses caminhos de lembranças, coloquei o meu tio Orlando como parte de grande importância na vida dele e vi seus olhos
se encherem de lágrimas. Verdade que todos conhecemos, sem saber de algumas coisas que mudam o semblante de meu velho pai:
a falta que meu tio fez a ele quando se foi prematuramente.
Ele lembra com tristeza que meu tio, seu companheiro até
então, não pôde ter uma infância e juventude como ele por um problema de saúde e, ao dar a volta por cima, carregou com ele
todos que pôde ajudar, entre eles meu pai.